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Cartões de visita, álbuns, postais, cartazes. Instrumentos imagéticos que tornaram a fotografia em uma ferramenta muito operativa para a propaganda colonial, criando, por um lado, a visualidade dos símbolos do progresso europeu, e por outro, desenhando as colónias como lugares exóticos. Os mapas serviram a política colonial e, em alguns casos,  foram reivindicações de posse antes mesmo dos territórios neles representados serem efetivamente ocupados. Serviram para o ministério das colónias dividir, invadir, organizar e tentar controlar cultural e economicamente o Outro, o suposto selvagem primitivo. Os mapas, como uma forma de saber mas sobretudo como instrumentos de poder, como nos recordava Foucault entre outros, são as cartas do desejo imperialista. Sobre eles, dispõem-se fotografias que se assumem como os instrumentos visuais de um encontro – o encontro dos povos originários com os invasores das suas terras e dos seus corpos.

É hoje cada vez mais evidente, que os documentos coloniais precisam ser problematizados na sua génese, para que possa ser evidenciado o sofrimento e  o confronto que envolveu tal experiência. Para além das imagens do exótico, o mau encontro foi permeado pela resistência dos povos representados nas fotografias, que, por algum motivo, estiveram nas imagens. As fotografias e mapas apresentados nesta mostra, trazem nas cores, nas linhas, no metal, nas junções, uma narrativa para despertar o olhar, os sentidos e a percepção dos processos de opressão e resistência.

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                      Relato de Mafalda Peres Couto sobre a exposição Cartas do Mau Encontro 

" No dia 8 de Fevereiro tive o prazer de percorrer com o @emilinodantas a sua mais recente exposição que inaugurou no Museu do Aljube em Lisboa.

Numa analogia com o passado que está normalmente em lugares escondidos onde ninguém gosta de ir, foi inaugurada na última sala do piso térreo, a exposição que Emiliano intitulou: Cartas do Mau Encontro. Cozida com linhas vermelhas, em paredes repletas de pequenos materiais que constroem a parede e que são postos a nu por estarem à vista de todos sem qualquer acabamento ou tinta. 

Se o Emiliano já nos tinha  habituado a uma dualidade maravilhosa nas suas obras, entre a felicidade daqueles que fotografa, a beleza dos lugares e dureza das ideias que transmite , esta nova coleção apresentada no Museu do Aljube não é excepção. Toda a exposição que o antropólogo, fotógrafo e artista  criou, desenhou e montou ainda que nos mostre cartas de um mau encontro não deixa de ser um encontro necessário.

Nas obras de técnica mista, o artista coloca em justaposição não só conceitos passados e retificações presentes, mas também materiais como mapas, fotografias, folha de ouro e até mesmo linhas.

Simultaneamente, nas escadas por onde podemos percorrer a exposição permanente do museu, entre o 1.º e 3.º piso, o artista vai mais além enquanto simultaneamente deixa questões em aberto que possibilitam a discussão interna de cada um dos visitantes “terminando” a exposição com uma ideia expressa repetitivamente enquanto subimos e descemos a escadaria  : “ o futuro não existe! Só o presente”.

Nesse sentido ainda que o passado tenha sido um mau encontro e o futuro não exista fico feliz que no presente possamos continuar a visitar exposições e museus como a do Emiliano e o Museu do Aljube que nos levam a questionar paradigmas e ideias/conceitos que devem e podem ser mudados sobretudo através da linguagem artística que tem esse poder não só de mudança mas de chegar à população em geral e de provocar o questionamento."


 

DIVISÃO, UNIÃO E CONTINUIDADE

A partir de referências próprias, a colonização dividiu, classificou e categorizou. O objetivo? Conquistar, explorar, civilizar. O resultado? Dominação, delapidação, morte. Impôs linhas aos territórios e criou uma cartografia da invasão para as/os corpos/as, para as terras, para a vida vegetal e para os materiais. Partindo desta leitura, a primeira série da exposição busca olhar criticamente os arquivos fotográficos e os mapas coloniais com a intenção de desessencializar as imagens e se posicionar em uma visão de mundo onde natureza e cultura não se separam, são continuidades.

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